ArtePlural Galeria 2013 Recife
O SONHO DA FOLIA
Para ser folião, no tempo do reinado de Momo, o palco ideal é a rua, o beco, a esquina, ou aquela praça com a luz do dia a dia. É preciso ter um sentimento muito particular que está no sonho de cada um.
Para ser folião é preciso encontrar a habilidade de falar com o corpo, e nele depositar cor, forma, volume, movimento; e, em especial, ter uma alegria poética, sensual e sexual; e também cômica e dramática. Isso é a fantasia. E a invasão do personagem na pessoa.
O personagem impera nos nossos sentidos. Ele promove um texto, uma ação, e fala tudo aquilo que vai além da palavra.
O corpo fala de forma própria, criativa e dominante, sobre esse destino traçado por Momo, um rei que exige total fidelidade do folião. Pois cada um terá o seu papel na festa.
Para ser folião é preciso estar na rua para ser apreciado ou para ser engolido pela massa humana que está faminta pela liberdade da festa.
Para se estar no reinado de Momo é preciso um rosto suado, um “passo” bem dado, um abraço apertado.
Do coração para a boca, do gesto para o sorriso. No tocar, no roçar, no beijar. Nessa busca pelo “sonho sonhado”, Momo comanda seus fiéis súditos. Foliões encharcados do espírito carnavalesco: “danado de bom”; “bixiga-lixa”; “virado no cão”. E, é isso que dá alegria e emoção ao verdadeiro folião.
Para ser folião é preciso se lambuzar, se juntar, entrar no “rugi-rugi” para sonhar e também trazer o sonho para o outro, provocar no outro esta “brincadeira”.
É uma energia que contagia, emana e irmana, para fazer o homem virar mulher e a mulher virar homem; o homem virar de bicho e o bicho virar homem. É o homem que vira urso. Faz o boi dançar. Faz a “sombrinha” se equilibrar de tudo que é jeito, no melhor gesto, no melhor “passo”, numa deliciosa “munganga”. É o teatro coletivo de rua. É o Carnaval de Momo.
Não tenha medo da “folia”, pois isso é coisa de “menino amarelo”. Deixe a purpurina colar no suor do rosto. Faça de um pedaço de papelão a sua melhor fantasia.
Seja tantos, muitos, na multidão.
Pois, para ser folião, sonhar é preciso.
Viver o carnaval de rua também é preciso.
Evoé, para o Carnaval de verdade do Recife!
Raul Lody
Antropólogo e folião